domingo, maio 30

Zezé Sussuarana

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Faz três sumana
Que na festa de Sant'Ana
O Zezé Sussuarana
Me chamou pra conversar
Dessa bocada
Nóis saímo pela estrada
Ninguém não dizia nada
Fomo andando devagar

A noite veio
O caminho estava em meio
Eu tive aquele arreceio
Que alguém nos pudesse ver
Eu quis dizer
Sussuarana, vamo imbora
Mas Virgem Nossa Senhora
Cadê boca pra dizer

Mais adiante
Do mundo, já bem distante
Nóis paremo um instante
Predemo a suspiração
Envergonhado
Ele partiu para o meu lado
Ó Virgem dos meus pecados
Me dê a absorvição

Foi coisa feita
Foi mandinga, foi maleita
Que nunca mais indireita
Que nos botaram, é capaz
Sussuarana
Meu coração não me engana
Vai fazer cinco sumana
Tu não volta nunca mais




composição: Heckel Tavares - Luiz Peixoto


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quinta-feira, maio 27

Escrava cansada

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Só sente a liberdade que tem dentro do peito.
Não escolhe sua terra. Nem sua cor.
Não escolhe o que sente.
Conformação, desesperança, raiva, fome, rebeldia.
A vida a leva sem escolhas.

Largou sua alma esquecida, esquecida entre alguns lençóis.

Desarmada de atitudes severas, subjugada a vaidades alheias.
Não dorme sem tristeza.
Não entende as indiferenças...
Nem as diferenças...



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sábado, maio 22

BICICLETA de krebes.

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Roda Dianteira:

Glicose
Glicose 6 fosfato
Frutose 6 fosfato
Frutose 1,6 bifosfato
Diidroxicetona-fosfato – gliceraldeido 3 fosfato
1,3 bifosfoglicerato
3 fosfoglicerato
2 fosfoglicerato
2 fosfoenolpiruvato
Piruvato
Acetil coA


Roda Traseira:

Citrato
Aconitato
Isocitrato
α cetoglutarato
siccinil coA
succinato
fumarato
malato
oxalacetato


- e a vida segue pedalando...








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sexta-feira, maio 21

tarde verde

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A pouca luz do fim da tarde me direciona a quietude própria do que é sereno.
Me sento e observo o jardim silencioso que repousa diante de mim.
O vai e vem da brisa suspende o aroma leve e verde.
Um equilíbrio invisível acontece.
Ali, calado, me sinto parte dele; me sinto só.
Assisto de olhos fechados as lembranças saindo do passado.
Antigas gavetas de um tempo meu.
Os sons freqüentam em largos ecos. As cores são preguiçosas.
Volto aos poucos e ainda estou ali.
Por causa alguma.



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quinta-feira, maio 20

Etiqueta do bom uso.

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Sem pressa, vá até.
Destape.
Sinta o cheiro.
Passe a língua.
Aguarde.
Se não arder ou azedar,
tire um pequeno pedaço.
Limpe as beiradas da boca.
Aguarde.
Mais um pedaço.
Descendo bem,
aumente as doses.
Limpe a boca.
Observe.
Não causando mal estar ou indigestão,
sem pressa, vá até.
Destape...



Texto: Ianne Brasileira
Adaptação: Tiago Landeira



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terça-feira, maio 18

Luxúria

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O contato veio cru, insosso e duro.
A entrega impensada e as ideias primitivas deram vez e força aos erros.
Era só desafio, febre, fuga, e pele.
O instante ditava as regras, revelava as opções e, como um tiro no escuro, tomavam-se decisões.
Tudo aconteceu.
Quando as ameaças imaginadas e o medo instintivo se esvaíram; as consequências vingaram o meu pecado.
Uma repentina paz vingou minha dor.



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quarta-feira, maio 12

na minha cabeça.

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E mais uma vez a sensação da realidade matizada acontece no meu infinito particular.
Não é saudade. Não é vontade. É uma sensação louca com sabor forte de instinto. Sinto-me mergulhado em mim entre todas as coisas que tem lá.
Como numa gelatina com cores do mundo e textura de pensamento.
Centelhas transitando sem pressa vem nascidas dos sinos; nascidas dos brindes; entre as chaves; na caixa de pregos; nas moedas do cego; nos intervalos nas flautas; dos jogos dos anjos e nas estrelas que se vê enquanto ainda é dia.
Movem-se aqui dentro entre os signos de minha mente.
Fazendo algumas daquelas cores brilharem num diálogo misterioso sobre coisas imperceptíveis.






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quinta-feira, maio 6

PALAVRA




l r a p a a v

p-a-l-a-v-r-a

Pa-la-vra

Palavra.

segunda-feira, maio 3

"...Cena de sangue no bar da av. São João..."

Ouvi tiros...




Na verdade não raciocinei tiros; era um barulho seco pronunciando enfáticos e ensurdecedores “p~Ó!”... “p~Ó!” explosivos, abertos, marcados, impossíveis de se ignorar. Ecoavam rápida e assombrosamente. Era um ponto final nas vontades do lugar; nas predisposições da gente ali. Como a espingarda que interrompe a serenidade da floresta, aqueles fogos malignos de tensão e peso de morte, descompassaram a madrugada.
Na terceira intervenção daquele barulho de ameaça iminente, eu compreendi.
Vi pessoas se jogando no chão desesperadas por salvar-se de tal forma que as garrafas e copos quebrados no meio do burburinho não preocupavam nem provocavam cautela.
Era só caos que nascia da força daquele estrondo de arma... Tentei me abrigar também, mas sem muita orientação de pra onde ir, parecia que qualquer direção era melhor do que se manter no mesmo lugar, então resolvi. Corri! De longe se via tantos no chão q não se sabia quem era a vítima; eu não sabia se havia vítimas.
Expressões de pânico, medo na voz, pessoas estáticas em choque. Eu não dizia nada.
De repente alguém pede ajuda, diz que é enfermeira e que precisa de socorro. Essa voz vinha de alguns metros a frente de alguém sentada ao lado daquele rapaz baleado. Não cheguei perto, considero não ter nervos pra algumas coisas e uma delas é uma cena de crime. Mas vi que aos poucos as pessoas se aproximavam de lá e se aglomeravam em torno formando um círculo de curiosidade e lamentação sem se permiter muitas emoções ou qualquer respeito formal para com o desconhecido ainda vivo.
De repente todos comentavam sobre o ocorrido e descreviam os seus momentos no instante do ato, - Eu tava do lado – dizia uma moça que vestia preto; - Eu quase dancei com ele- completou o discurso. E todos se perguntavam quem havia atirado e o porque de ter feito aquilo. Começavam a dizer de casos anteriores sobre vingança e cada um que apostasse na própria especulação. Assim as preocupações foram se tornando várias, enquanto o protagonista cansava do desfalecimento gradual que sofria até se entregar ao desmaio enquanto aguardar a ajuda. Talvez assim, se viesse a acordar, saberia que tinha dado tempo de ainda estar por aqui. Por algum motivo ainda estaria por aqui.