segunda-feira, maio 30

Palavra quando alma

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O Nome.
Existir são palavras.
Instante, cena, ação. Associação.
De observar, se captura.
Qualquer algo arranca uma impressão.
Faz linguagem. Mais toque, mais sentido.

Minhas sombras no entendimento. Palavras alcançadas do dia.

Se não escrever não me construo n’alguma parte. É tão profundo aqui dentro que não ouço o gotejar.
É vital dar um nome pra algum sentido que chegou. Explicar, entender, captar, colher, comer, sonhar.
É vital. O momento de sentir transitar todas as sugestões dentro de si.
E sinto o poder do tempo não me tocar quando estou cá comigo.
Mesa posta, eu vim e sentei. É pra isso que existo agora.
Eu apenas alma como a palavra apenas significa.
                                (Landeira)




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sexta-feira, maio 27

Dia

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No tempo chega cada dia.
O pão de cada dia, na manhã daquele dia.
Todo dia espera outro dia. A loucura de cada dia.
Na fartura de horas, tem o segundo a mesma espera cada dia.
Morre o dia por todos os motivos de se morrer de cada dia.
O passado é hoje o que foi um dia. E hoje é mais uma vez novo dia.
                                                                   (Landeira)




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terça-feira, maio 24

Sombra de mim

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Esta terça que vibra entre minha razão e emoção me torna um espectador da minha vida a ponto de admirar-me.
Me constituo sem alcance de qualquer perfeição, julgando qualquer atitude equivocada. Existindo dentro de mim sem respirar como se o meu ser isento do racional, fosse um estado de descanso.
Me vivo para a surpresa e perdido ou obstinado, sem diferença, tenho um tema pra seguir no presente que no sonho ou na dor se apresenta. E mesmo coagido, amedrontado pela ansiedade de cada dia em ser julgado; triunfar incrédulo por não esperar por quem a mim preze ou pelo momento de ser exaltado.
Ao que merece minha concentração, meu tempo empregado e minha causa que pode até ser ao nada comparada, justifico meu ritmo e devoção sem ter de explicar qualquer parte desse particular tesouro.
O lugar que me eleva para além da falta de qualquer outro ganho ou qualquer perda é como um lar. Chego lá quando me sento e nem imagino. Onde posso sentir o cheiro do céu. Chego lá quando penso que não posso abandonar as últimas palavras reunidas sem capricho. Quando a importância do descanso não é maior que a da reflexão.
Vou até lá quando me vivo e me amo considerando que só tenho isso. Quando faço o caminho de volta que me levou a queda. Retorno para o íntimo. Para o absurdo milagre de insistente felicidade que arde.
Questiono a mim cobrando argumentos. Não é de graça ou sem preço que se obtém alguma felicidade e não concebo amanhecer com tanta estando rodeado de despropósito, perdido ou obstinado por alguma falsidade. Sem qualquer falsidade.
Erro, critérios, vaidade. Banal e carne, a vida completa com os dois lados da moeda. Escrever por odiar, amar para morrer, jogar contra o irmão. Errar, errar, errar... E ter perdão.
Para o divino, acredito ser a minha melhor e suficiente oferta. Eu acredito. Eu erro.
                                                                   (Landeira)







"Mary musth" do artista Ryohei Hase



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sexta-feira, maio 20

Por sobre um fio

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O fio entre duas pontas.
O nó no meio. O coração.


A ponta. Oito vezes distante. O canto.
De lá pra lá elas dizem sobre o amor constrangido.
Se ocultado na sombra dos sorrisos; Se escondido atrás do olhar brilhante.
Dor e dor

Sentir frio. Não tocar segundo a mão.
Taça cheia. Rolha retirada com parafuso.
Rudeza penetrante na doçura.
Quarto dilatado em desconforto.
Descortina-se a quinta.
Sem lua; um céu em prantos.
A sesta, após o prato raso que oferecia amor. Alimento sem cheiro.
Dias e dias a pão.
Sem temas; sentidas palavras ainda desejo ter na vida impensada para dois.
Ou tentar sem calor; Sentir paz.

                             (Landeira)



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terça-feira, maio 10

Segunda a quarta.

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Coro, choro, outro, refrão.
Estrofe, pedido, oração.
Lamento, abrigo, abraço, canto, perdão.
Caro, regrado, custo, trovão.
Tudo, junto, vivo, benção, gratidão.

De resposta nem sempre é preciso, não.

                             (Landeira)




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Esperança e o resto.

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Permaneço de pé.
Coração firme, pois ela está viva e me sustenta.
Forte esperança. Viva esperança. Mais viva do que eu.
Grito.
- Que obstáculos me travem; sempre saberei os seus tamanhos e também onde exatamente os deixei!
- Que cada começo e recomeço anuncie o desconhecido; sempre estará aqui dentro me ensinando a esperar!
- Que todo o resto me incline à incredulidade; de nada terei medo!
Sozinho, sempre sozinho, o meu temor é que um dia me falte o amor. Temo e, sem demora, choro com meus anjos; logo me sinto abastecer com as suas lágrimas. Doses que me fazem subir vigoroso, a vida ladeira acima.
Tudo ainda está no começo.
Todo o resto é desconhecido.
Mesmo assim...
                                                                   (Landeira)
Adaptado a partir do texto de Rodrigo Lima.





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sexta-feira, maio 6

Ode ao bem

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Dói e choro.

Penso no bem do meu irmão;
É o mesmo bem que penso pra mim?
Seria certo pedir por bem?
Estar bem não é simplesmente saúde?
É mais?
Amor. Dinheiro. Saúde.
Por quê? Se a insatisfação não depende de se estar bem.
A busca pelo bem sangra em terror.
Ninguém sabe disso.
Limites podem nem existir.
A comunicação ser apenas códigos de correção.
O bem, um estado de equilíbrio hoje.
E equilíbrio o miolo do desequilíbrio.

Dói e sigo...

                            (Landeira)






Pintura de Jean-Francoi Millet - "maternal care"



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Aperitivo

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Negro grão, negro eu
O gole, a boca, o pensar
Me acompanha a espera
Sem palavras, apetece apreciar

                             (Landeira)







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