quinta-feira, junho 28

Mergulhado

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Um gole na garganta seca
Assumi o amor inteiro com a disposição de um mergulho
Sem ver altura, sem ter fobia, sem ter água, sem ter chão...
Era queda
Sem ter braços para pousar o fim do dia
Todo esse caminho era espera
Percorrido veloz no fundo dos olhos
Caía...

Então inteiro amando em meu coração
Acreditava sem medo.
Nem medo, nem nada... na espera
Atento aos lados, aberto aos sinais
Ao que não viesse de mim, nem já estivesse comigo
Devia chegar, teria de chegar
Devia acontecer... ser real
Mas até aquele limite era eu na espera

Fui só, fui calado,
Engoli de uma vez as sobras do desejo
Que já não alimentava nem ilusão
Pesavam essas pedras dentro de mim
Ventre, peito e garganta pesavam
Me empurrando contra o chão na espera
Escorregado entre os encontros

Horas de ontem até o chão
Fui tudo menos invencível
Na falta do querer verde e molhado
Seus olhos quando chegaram em saltos no escuro
Quando eu apenas precisava só de mim



landeira








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segunda-feira, junho 25

Em seis horas


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O peso dos ombros, a coluna ereta
Riso, óculos e chapéu
Combinados e prontos pra sair
A identidade pintada para poder pisar a calçada e cuspir na rua

Até terminei de escrever as falas
Mas eram tristes para o dia de hoje que enchi a cabeça de cores
Ausentando-me do sopro frágil do suspiro
Ausentando-me da saudade da presença

Enxergando nas mãos o interior
Revolvo os motivos
Os utensílios, os vícios
Ressignificando o que me toca com ou sem dor

A estação é a mesma, ainda não passou.




landeira










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Tuas Partes


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Quero a saudade.
É ela a tua impressão em mim de novo.
E sinto sozinho, as mágoas que trazem tuas outras partes.
São mágoas e as quero pra mim, mesmo sem minhas lágrimas assistidas por você.
São tuas partes e mesmo sem cheiro quero sim.
Como a lembrança que te traz ao dia de tua chegada.
Onde não era o lugar e nem o tempo que me dizia tua escolha.



landeira







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quarta-feira, junho 20

Duas sombras

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A outra me segue bem atrás dos meus olhos
Ente da luz que me enfrenta e me recupera
Deitando em minhas raízes
No meu abstrato
Entrando nessas águas e águas
Pra respirar
Entre os fios de minha pele
Entre o brilho dos nomes que trago
E entre o espaço adormecido de estrelas

Sabendo do meu eu
Me percorrendo mar sem fim



landeira











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O cio

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Não lembra dia
Mas nascem os sons e vem
Chegando de longe, flutuando sobre tudo
Despertando o espaço, agredindo o interior

O frio, o cio altera

Transtorna, transvia os lados
Corre de medo, de desejo
Sangra o chão, de costas expostas
Uiva a solidão; olha turvo, rachado
Detém de sair e ir. Saga ácida
Arrebata voraz a alma do fundo refúgio
É grito. Insistência rígida em cega sombra


E rasga a noite perdida e armada.





landeira










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segunda-feira, junho 18

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Qual ave também não para de voar?
Que eu?

Verdade.
Açoites à ilusão. O ronco dos sintomas.
Liberdade,
Eternidade alcançada.
Os pensamentos se guiam sempre solitários.
Não perduram até importar.
Em voltas e voltas.
Reverência, sabedoria e o silêncio,
Então a voz do tempo.
O momento reverte, envolve e se apaga.



Landeira






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sexta-feira, junho 1

Luto das Pedras


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Grito no sonho.
E ainda no escuro protetor,
Grito de novo acordado.

Tantas idades em reações.
O Passado. Dias seguindo contrários.
Que deixo as palavras nos dentes.
A vida é mais do quanto já se foi e pouco do que se quer ser.


Na teia do presente,
Tece ainda a saudade
Entre as ações acontecidas,
Entre o silêncio, o imóvel.
O invisível luto das pedras.
Desde quando imperceptível,
Até quando deixar de ser o mesmo.


Landeira














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