sexta-feira, abril 30

Salvador

"A música lá é uma oração popular. O coração acredita pra depois bater. O símbolo da crença já é o baiano."



Na cidade alta

O meu olhar corria pelas ruas e casas tentando aprender todo o lugar durante o percurso até o pelô; e foi lá que consegui parar um pouco esse frenesi.
Quando me deparei com aquele prédio, metade azul e metade amarelo, me disseram que era a casa de Jorge Amado. Fiquei a pensar diante daquele largo... Era como se ele ainda estivesse ali com suas inspirações e junto com ele o tempo só esperando pra ver o percutir dos tambores de um próximo ensaio, que deve acontecer com a mesma freqüência que a cidade respira e se entrega ao axé.

Desço pelo Lacerda



Na volta o vislumbre da cidade baixa com o mar não me permite dar muita atenção a todos os vendedores de fitinhas do Bonfim que me rodeavam com propostas sedutoras de consumo e que até nem se importavam em dar várias delas por pura tentativa de algum lucro.
Com poucos centavos comprei a decida no elevador Lacerda que me levaria pra provar outros sabores da cidade alguns metros abaixo. Num corredor longo cheio de janelões panorâmicos até a porta da cabine, reparo pelo vibro que meu Brasil tem tudo a ver com aquilo que vejo ser diferente pra mim.

Em frente ao mercado modelo

Sou recebido por ciganas-baianas, ou baianas-ciganas, ou só ciganas, ou só baianas; vai de acordo com a conveniência do dia eu penso.
De longe o prédio grande e amarelo parecia uma peça inteira de queijo manteiga e daquelas portas já se podia cheirar o ar de muitos temperos e sabores sacramentados da terra de todos os santos.
Vendia-se, dendê, bonecos e mais fitas do Bonfim; santos, ervas e cocadinhas que comprei pra trazer de lembrança; eram pequeninas e quadradinhas, cada uma individualmente embrulhada guardando um sabor exótico e delicioso.
Na saída do mercado, mais próximo de todos aqueles barcos atracados de velas recolhidas, uma baiana tava instalada ao lado da porta com um carrinho pra fazer seu acarajé. Magrinha e nada inibida, só fez rir quando eu pedi o meu sem camarão – e vai ser só verdura? – disse ela com olhar sapeca de sobrancelha arqueada achando tudo aquilo muito engraçado; acredito que foi o mesmo que pedir omelete sem ovo. Com ela tirei uma fotografia, mostrando aquele acarajé mais que personalizado.

Da fé

Vi difundida e estabelecida na mínima intenção do que se refere a salvador. Monumentos, lojas, adereços, ritmos, cumprimentos... Está tudo ali numa dinâmica curiosa que não atrapalha a crença de quem quer que seja. O Dique do tororó e seus oito orixás consagrados e coloridos dançam pra quem souber ver a liberdade e a força da crença.

Quero voltar!

segunda-feira, abril 26

Numa atmosfera vaporífera.


A névoa quente e densa preenche todo o espaço a ponto de se empurrar o ar ao se movimentar.
Permite-se um incômodo orgânico de resposta imediata.
A temperatura úmida abriga agonia.
A pele se entrega a sudorese.
Gotas parecem se formar ainda suspensas nessa estufa mentolada.
A exaustão é a proposta do ambiente. Só vapor e suores.
Reciprocamente o suspiro sem fôlego sufoca a respiração já ofegante.

sábado, abril 24

Café


Gosto de café... do gosto de café.
Ensina a ser aroma e cheiro.
Amarga suave.
O gole depois de dado deixa uma atmosfera sutilmente densa no céu da boca.
Cada respiração seguida, acontece como um trago.
Segue pelos pulmões e retorna como um tapete estendido desde a língua.
Causa efeitos de se despertar.
Convida a um conforto simples.
Ganha a vez no momento. Enuveia.

quinta-feira, abril 22

37 - Cid.Satélite - Praça

E nesse teclado preto, paralisado e sem descanso de tanto levar dedadas, vão sendo transferidas as letras apanhadas por minhas impressões, bem no “ato da matrícula”, em rascunhos escritos às pressas ou encontradas durante minhas várias leituras feitas nas filas de resolver problemas.




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E foi ontem quando pegava o último ônibus de volta pra casa ouvindo meu mp3 que encontrei aquele homem comum a todos que pegam ônibus. Dei meu dinheiro pra ele e esperei o troco, enquanto isso, observei q só tinham duas pessoas sentadas ao longo do veículo com cara de desengano.
Passei pela roleta que estalava sem causar incômodo e me sentei longe de todos, mas mesmo de longe observava ainda aquele homem que era a própria expressão do cansaço. Um senhor de meia idade, com seus óculos que já faziam parte do seu rosto, lutando contra suas pálpebras que sem dúvida o estavam vencendo. Julguei-me feliz por não estar ali no lugar dele, mesmo não sabendo julgar muito sobre o que pode nos levar onde estamos atualmente. Vê-lo ali era o mesmo que ver um quadro ou uma fotografia retratando o final do expediente, a aceitação do trabalho enfadonho, e nada mais animador além do sono que vai separar um dia de trabalho do outro. Guardei meu caderno e desci na próxima parada.



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