terça-feira, agosto 30

Inédito

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Amor de palavras ter de buscar. Sentido descobrir.
Quando se chega.
Se chega... perto.
Perto do que chega de saudade sem borrar o colorido dos dias.
No abraço e mais fundo.
Na respiração.
No dizer mudo de carícias.
No passo que decide ir. Que decide ficar.

Ainda minha saudade está com você.
E todo o tempo da gente está com você.
Inédito e sem exitar.
Vivendo em nós e tu, 
também em meu sonho.

                           (Landeira)









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sábado, agosto 27

Deus Tempo

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Deus de tudo invadir.
Seres, cosmos, energias, ventres e qualquer medida desigual.
Corta as agilidades do vento, a luz risca e me atravessa reticente.
Nunca esteve na alma quando dele também ela saiu.
Tempo, tempo...
Utopia incompreendida do homem. Sendo a parte do que há e a mesma parte no vazio de sempre.

                            (Landeira)















Pintura "Bordando el manto terrestre" - Remedios Varo




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terça-feira, agosto 23

Retorno

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De joelhos para a parede; dar em nada.
Limite duro de ter de voltar.
Se encarar por vezes. Retorno para o encontro de si.
Quem é o estranho agora?
Procuro minhas respostas antigas, que me posicionam de onde vim.
Um vazio cheio do que a realidade com o tempo mostrou.
Desmistificada a crença, interpretada a natureza, lógicas apanhadas no estalo de um chicote inconsciente, e um caminho lento e sonolento até o quarto escuro de porta entreaberta que nunca vence o longo corredor.
Os significados não são palpáveis e, se não os sinto, questiono o valor da vida que me apresentaram aqui.
Nem mais triste ou menos satisfeito. E o que tem nisso além de retornos?
Ânimos em voltas numa sincronia de revezamento em movimentos de gangorra.
Coisas que parecem de nada depender.
O espírito pode estar no vento, ou enterrado vivo na própria loucura doentia sem questionar uma ilusão verde, ou o espaço apertado que dura nos vários sonhos de juventude eterna, amor verdadeiro, amizade fraterna, enfim, qualquer verdade que esconda a profundidade do abismo.

De joelhos para a parede estão os retornos para outro mais um dia de querer sobreviver.
E falam de tudo... Entendem tudo... TUDO!
Com tudo os resultados são incógnitas.
E se ousar não viver? O que começa partindo do não existir?
Em que mãos estamos à deriva?
Sigo em retornos o que entendo ser mesmo que sem querer; corpo e tudo o que está escuro neste longo corredor até a porta entreaberta.

                            (Landeira)







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sexta-feira, agosto 19

Navego

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Olhar o mar e se perder
Dias e noites
Sentindo como não ser
Porto e anseios

Voz dos mares
Reivindica às águas
Canto da natureza
Navega ao amor de deusa
Pois sem altar navega o tempo
E arrebenta contra mim


                            (Landeira)




Fotografia por Landeira.




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sexta-feira, agosto 12

Corpos




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Farelo de escamas. Pele. Ex camada. 
Pêlos pelo chão. Pano de chão.
Porta treco misturado. Alicate, lixa, esmalte, caneta, pó compacto, moeda, grampo, cabelo.
Fisgada de Agulha. Espinho contra a fibra. Álcool. Ouvido tapado.
Toalha e banheiro abafado. Água quente.
No rosto, cravos, espelho e penteado.
Pés descalços; geladeira. Resfriar. Arrepio. Duros mamilos. Espirrar.
Paredes duras. Ex resina. Dentes, unhas.
Partes duras. Trato gasto. Chá de boldo.
Arroto. Gastro emissão.
Ar viciado de fôlego usado. Tosse.
Mofo nos guardados. Verniz na viga. Cupim no forro.
Rolo de papel. Coriza irritante e nariz irritado.
Dor na lombar. Procurar gavetas. Pulsar em 12/8.

Cansaço encostado. Sofá. Bocejo.
Expiração. Fraqueza franca, suspiros e ais.


                            (Landeira)









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Móvel


Para. Dois giros. Cai em segunda.
Sobe na ponta.
Elevação de cabeça.
Esquerda.
Fixar marcação.
Diafragma e coluna.

Atento! Não piscar.


                            (Landeira)




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quinta-feira, agosto 11

Platônico

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Desejo não vir a aproximação.
Que me liberte a sua presença.
Que me traga de volta a natureza do lugar.

Desejo que se percam as brisas muito afora.
Que não se apresente seu cheiro. Perfume de saudade.
Desejo que não me enxergue os teus olhos. Que outra esperança brilharia nos meus?
Desejo você não aqui do meu lado; para que eu não me reduza em receios.

Desejo não me chamar tuas palavras.
Que em meu coração tranquei as minhas.
Desejo um despertar sem afeto. Inconsciente em te alcançar.
E nem mais mudo, ou cego, ou vazio; colher meu desejo, numa porção de fôlego que reste, pra nada mais ter de desejar.

                             (Landeira)



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quarta-feira, agosto 10

Mel no pires

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São teus olhos e tua boca.
Não me lembro de tê-los visto em meus dias de tristeza.
Agora, mais hoje, te chegas e te olho de novo; sem fugir.
Estou aqui, acreditando que tudo é possível.
Sendo desafiado por você.
Me vendo no seu olho.

Há tanto chão entre nós.
E uma vez te vejo e não volto.
Te desejo um adeus sem pranto.
Não quero ver seu sorriso desfeito.
Também não o quero guardado em meu bolso.
Só preciso saber que ele existe em você.
Vagando sem mim nas outras razões da sua vida.

                            (Landeira)




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segunda-feira, agosto 8

Peso

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Negror de sepulcro. 
Consciência em interior profundo.
Asas em vôo cinza. Fumaças e pesares.
Reflexões do céu em noite agarrada de sombras.

... Pela graça de algum ente que também se pauta pelo amor.

                            (Landeira)


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sábado, agosto 6

Naturalmente

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Digo agora, de novo, todas as palavras já repetidas.
Não sou nenhum gênio de fazer o novo se apresentar tão distante do que já tinha em minhas mãos.
Continuo relevando conflitos pra me sentir confortável e tratando com praticidade as questões que me trazem idade, solidão e alguma lágrima.

Mas voltando a falar do novo, receio incluir desta vez a palavra lamento.
Lamento sem significar tristeza ou propriamente me sentir lamurioso. Não.
Aposto mais na obviedade do sentimento; significando algum desgaste, usurpando alguma atenção, obscurecendo, causando certa náusea mas simplesmente sendo sentida por estar no transito do caminho agora.

Mas lamento sim; as mudanças que freiam, cansaço que subtrai.
Coisas que ando sentindo a essa altura da vida que comparo a estar sendo acordado no meio de um sonho bom com aquela voz que de longe vai te chamando a um despertamento.
Natural; o barulho faz acordar.
Naturalidade, inclusive, talvez seja a palavra mais verdadeira que eu conheça, mais até que “verdade”, que pode ser negada e daí tudo muda de uma hora pra outra.
Não se está impune a efeitos de mudanças. Principalmente sendo tudo verdade.

Me sinto adequado a qualquer dos adjetivos entre confortável e seguro, quando experimento naturalidade.
Piso firme e posso correr. Se escorregar, sei onde vou cair. E vão se dando meus movimentos e direções.
Por mais que se ensaie, o que se tem de fazer, no fim, é relaxar e deixar acontecer.

Enfim, longe de mim me atrever a dar conselhos sobre a natureza das pessoas ou escrever um livro de auto-ajuda, mas, como são comprimidos gases dentro de uma garrafa pet; todos os meus lados são empurrados tendendo a me esvaziar.
Assim falo demais e me atrevo.

Pareço estar tratando disso tudo como se tivesse 15 ou 17 anos; mas pouco importa, de fato as razões para pensar melhor onde estou hoje não podem ser ignoradas nem tratadas levianamente seja cedo ou tarde.
Confesso que por mais reveladoras sejam as situações; sentindo o peso, travas de segurança e etc; digo sem cautela que percebo tudo seguindo normal.
Não passa de um lado novo que se experimenta.
Um calo que se formou.
Uma palavra que nasceu de uma tradução global.
Coisas que vão se tornando conhecidas, regidas de novas impressões.
Loucura em garrafas pet fazendo pressão e deixando todos em alerta de escape.

E me parece ser bom reunir tudo numa coleção de traços de maturidade e naturalmente, sentir o meu riso e todas as outras reações fisiológicas dentro da adaptação nova.
Ouvir que, “Nada se perde, tudo se transforma”, ou “o homem é um ser social inacabado”, ou ainda, que somos indivíduos em constante transformação; ler sobre evolução dos seres, ou sobre evolução espiritual; seja como for, reconheço o valor de precisar ainda mais entender sobre o que sinto; afinal, mesmo o óbvio precisa ser entendido.
Por fim sei que não tem nenhuma novidade no que disse; mas naturalmente sinto que acordei e dei de cara com isso pela primeira vez em toda a minha vida, como frutos no período da safra, na qual os que não chegam a ser colhidos caem de apodrecidos.
Naturalidade empurrando sem pedir licença.
E eu não lamento nada disso.

                             (Landeira)





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segunda-feira, agosto 1

Sou de mim

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Alma além dos erros.
Distração além do remorso.
Natureza além da carne.
Que os olhos fecho para melhor me perceber.

Sou estes dedos além do pensar.
Calor além do abraço.
Fuga além das marcas.
Que me toco e me reconheço.



Me encontro além do lugar.
No que vejo... No que desejo...


                           (Landeira)







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