segunda-feira, maio 3

"...Cena de sangue no bar da av. São João..."

Ouvi tiros...




Na verdade não raciocinei tiros; era um barulho seco pronunciando enfáticos e ensurdecedores “p~Ó!”... “p~Ó!” explosivos, abertos, marcados, impossíveis de se ignorar. Ecoavam rápida e assombrosamente. Era um ponto final nas vontades do lugar; nas predisposições da gente ali. Como a espingarda que interrompe a serenidade da floresta, aqueles fogos malignos de tensão e peso de morte, descompassaram a madrugada.
Na terceira intervenção daquele barulho de ameaça iminente, eu compreendi.
Vi pessoas se jogando no chão desesperadas por salvar-se de tal forma que as garrafas e copos quebrados no meio do burburinho não preocupavam nem provocavam cautela.
Era só caos que nascia da força daquele estrondo de arma... Tentei me abrigar também, mas sem muita orientação de pra onde ir, parecia que qualquer direção era melhor do que se manter no mesmo lugar, então resolvi. Corri! De longe se via tantos no chão q não se sabia quem era a vítima; eu não sabia se havia vítimas.
Expressões de pânico, medo na voz, pessoas estáticas em choque. Eu não dizia nada.
De repente alguém pede ajuda, diz que é enfermeira e que precisa de socorro. Essa voz vinha de alguns metros a frente de alguém sentada ao lado daquele rapaz baleado. Não cheguei perto, considero não ter nervos pra algumas coisas e uma delas é uma cena de crime. Mas vi que aos poucos as pessoas se aproximavam de lá e se aglomeravam em torno formando um círculo de curiosidade e lamentação sem se permiter muitas emoções ou qualquer respeito formal para com o desconhecido ainda vivo.
De repente todos comentavam sobre o ocorrido e descreviam os seus momentos no instante do ato, - Eu tava do lado – dizia uma moça que vestia preto; - Eu quase dancei com ele- completou o discurso. E todos se perguntavam quem havia atirado e o porque de ter feito aquilo. Começavam a dizer de casos anteriores sobre vingança e cada um que apostasse na própria especulação. Assim as preocupações foram se tornando várias, enquanto o protagonista cansava do desfalecimento gradual que sofria até se entregar ao desmaio enquanto aguardar a ajuda. Talvez assim, se viesse a acordar, saberia que tinha dado tempo de ainda estar por aqui. Por algum motivo ainda estaria por aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário