domingo, fevereiro 26

Mordido

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Me falta um pedaço que foi bem mordido por quem não posso culpar.
Lembro-me inteiro e como antes sentia ali onde não faltava.
Não fui surpreendido por aquela malícia.
Sabia dos dentes, do profundo olhar que traga.

Deixei sem interromper. Era vivo; era eu e meu.
Fui aquela parte levado como por alguém que espalhasse minhas palavras nos ouvidos de tantos, nos encontros e apresentações, nas ruas escurecidas que estão poucos a sorrir.

Deixei.

Sou resignificado.
A Parte que foi, deixa o espaço e todo seu passado inviolado.
As linhas preenchidas são mais soltas e vão mais facilmente por todas essas janelas abertas.
Delas não se vê o jardim; se vê lua. Ficou mais frio, mais denso e escuro.

A Parte que foi, deixa o espaço.
Lembro-me inteiro e como antes sentia ali onde estava.
Resignifico meus dedos nessas linhas preenchidas.

Receoso ainda. Mordido. Sem medo atravesso a noite.
Entroso movimentos nas voltas do que vejo e do que foi.
Tão vivo quanto são as charadas e as metáforas que se tornam uma na outra.
Ora com chances, ora sem apelos.

                                                                                   (Landeira)






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